Acidente Vascular Encefálico

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Acidente Vascular Encefálico
O Acidente Vascular Encefálico (AVE), ou como é popularmente conhecido como derrame cerebral, é um processo patológico de caráter neurológico, que se caracteriza pela obstrução ou rompimento de algum vaso que esteja localizado no encéfalo. Possui um alto grau de mortalidade, pois é uma patologia de muita incidência, sendo a terceira causa de morte nos países industrializados.  Aqueles pacientes que conseguem sobreviver após um trauma como este, será submetido a uma perda funcional levando a dependência parcial ou total.

Fatores de risco
São fatores de risco para um AVE:
Hipertensão arterial
Principal fator de risco, no Brasil, em torno de 85% dos pacientes com AVE são hipertensos.
Diabetes
Constitui risco para AVE por mecanismos aterogênicos diretos e por interagir com outros fatores de risco, como hipertensão e hiperlipidemia.
Fumo
Fator de risco importante para AVE, sendo sinérgico à hipertensão, ao diabetes melito, à intolerância à glicose, à idade, à hipercolesterolemia e à doença cardiovascular preexistente.
Também são fatores de risco:
·         Fibrilação atrial
·         Hiperlipidemias
·         Sedentarismo
·         Idade
·         Sexo
·         Etnia
·         Hereditariedade
·         Álcool em excesso

Tipos de AVE
Podem ser classificados das seguintes formas: Isquêmico, hemorrágico ou ataque isquêmico transitório.
Isquêmico: interrupção do fluxo sanguíneo cerebral causada por um bloqueio parcial ou total de um ou mais vasos sangüíneos e quando essas células do cérebro são desprovidas de oxigênio por poucos minutos, ocorre a destruição das mesmas e morte do tecido cerebral (infarto cerebral).
Hemorrágico: ocorre um sangramento anormal para dentro das áreas extra vasculares do cérebro, em conseqüência de aneurisma ou trauma, sendo que a hemorragia aumenta a pressão intracraniana, lesando os tecidos cerebrais e restringindo o fluxo sangüíneo distal (MAZZOLA et al., 2007).
Ataque isquêmico transitório: são causados por uma interrupção temporária do suprimento sanguíneo ao encéfalo, e resultam na instalação repentina de comprometimentos e limitações funcionais.

                                        ISQUÊMICO                                     HEMORRÁGICO


Fisiopatologia do AVE

Uma vez ocorrida interrupção da circulação arterial, segue-se a isquemia, liberando glutamato (neurotransmissor excitante) que aumenta o metabolismo celular, conseqüentemente aumenta a entrada de cálcio (Ca+), levando ao acúmulo de liquido entre os neurônios, tendo como conseqüência um desequilíbrio iônico, levando a parada do funcionamento e morte celular. Esse processo é caracterizado por uma área de penumbra ou área de sofrimento celular, uma vez que, essas séries de alterações funcionais e estruturais surgirão no território acometido (O' SULLIVAN, 2004).

Sintomas

Fraqueza, distúrbios visuais, distúrbios na fala, dormência, convulsões, paralisia ou dificuldade para se movimentar, visão dupla, tontura, desequilíbrio e incontinência urinária.

Manifestações clinicas

A disfunção motora é uma das sequelas mais frequentemente encontrada e terapeuticamente resistente após um AVE. O déficit motor é caracterizado por hemiplegia ou hemiparesia de um lado oposto ao lado da lesão no hemisferio cerebral. Dentre os sinais e sintomas dessa doença podem ser encontradas: disfunções sensoriais; disfunções do equilibrio e da coordenação; disturbios da comunicação; deficits no campo visual; comprometimentos cognitivos e intelectuais. Os sinais e sintoms clínicos específicos em cada caso refletem a localização anatômica da lesão. O tamanho e extensão da lesão determinam a gravidade do déficit (ERICKSON, 2004).
De acordo com O' sullivan; Schitz (2004), a sintomatologia do AVE depende de vários fatores como: o local, tamanho da área, natureza e as funções das estruturas envolvidas e a disponibilidade de fluxo sanguíneo colateral. O conhecimento da anatomia vascular cerebral é essencial para entender essas manifestações, dentre as mais importantes temos o acometimento da Artéria Cerebral Anterior que resulta em hemiparesia contralateral e a perda sensorial com maior comprometimento de membro inferior, comprometimentos mentais, problemas com imitação e tarefas com as duas mãos, apraxia, abulia (mutismo acinético), lentidão, atraso, falta de espontaneidade e inação motora. Na oclusão da Artéria Cerebral Posterior pode causar a hemianestesia (perda sensorial contralateral), hemianopia contralateral homônima, prosopagnosia (dificuldade de nomear pessoas quando as vê), dislexia (dificuldade de ler), agrafia (dificuldade de escrever), problemas ao nomear (anomia), diferenciar cores, déficit na memória, movimentos involuntários, síndrome talâmica (comprometimentos sensoriais).

O acometimento da Artéria Cerebral Média resulta em hemianestesia da face e extremidade superior, comprometimento motor na face extremidade superior, hemianopsia homônima (cegueira na metade direita ou esquerda dos campos visuais de ambos os olhos), distração, impulsividade, apraxia, compulsividade, afasia, dificuldade de compreender as relações espaciais (ERICKSON, 2004).

Comprometimentos a partir do AVE

Após um AVE, o paciente pode ser comprometido de duas formas, direta e indiretamente.
Diretamente: Déficit somatosensitivos, dor, déficits visuais e motores, hipotonia inicial e depois hipertonia, padrões sinérgicos anormais, reflexos anormais, paresia, distúrbios de programação motora, de controle postural e equilíbrio, perceptivos e cognitivos, afetivos, esfincterianos e disfagia (LUCARELI et al., 2005).
Indiretamente: Tromboembolismo venoso, rachaduras de pele, diminuição da flexibilidade, subluxação de ombro, distrofia reflexa simpática e descondicionamento físico. (O' sullivan; Schitz - 2004).

Diagnóstico

De acordo com a Sociedade Brasileira de Doenças Cardiovasculares, mediante a suspeita de AVE, é necessária a confirmação através  de alguns exames fundamentais:
Tomografia Computadorizada do crânio (TC), em que deve ser realizada imediatamente e repetida em 24-48 horas nos casos em que não sejam evidenciadas alterações no exame inicial ou de evolução insatisfatória. A partir deste exame, pode-se verificar a natureza do AVE (isquêmica ou hemorrágica), informar a área atingida e a extensão da lesão e a identificação de complicações.

Ressonância Magnética encefálica (RM), apresenta maior positividade que a TC nas primeiras 24 horas para AVE isquêmico, principalmente no local vértebro-basilar. 

Investigação Etiológica, com a utilização do ultra-son Doppler de carótidas e vertebrais, avaliação cardíaca com eletrocardiograma, radiografia de tórax e ecocardiograma com Doppler transtorácico ou transesofágico, devendo ser realizados antes da alta hospitalar.
Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) está indicado nos casos de suspeita de hemorragia subaracnóidea (HSA) com TC negativa e de vasculites inflamatórias ou infecciosas.
Angiografia cerebral deve ser realizada nos casos de HSA ou acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) de etiologia desconhecida.

Prognóstico

De acordo com Oliveira et al. (2004), o prognóstico do AVE é extremamente variável, mas alguns fatores são considerados de mau prognóstico, entre eles, os mais importantes são idade avançada, o sexo masculino e raça negra de uma forma geral o prognóstico da linguagem se define em 6 meses, enquanto o motor em 1 a 2 anos. Após tais intervalos, usualmente os déficits existentes devem ser considerados seqüela do evento ocorrido.
Nos pacientes sobreviventes ao primeiro mês cerca de 10% têm cura espontânea, 10% ficam severamente incapacitados, com alteração persistente do estado de consciência e os 80% restantes, ficam com disfunção neurológica, necessitando de reabilitação para diminuir seu estado de dependência e prevenir complicações (KAKCHARA, 2005).

Tratamento Fisioterapêutico

Fisioterapeutas são parte da equipe de reabilitação envolvida no tratamento de pacientes com AVE, com exercícios terapêuticos e meios físicos para o controle da espasticidade e retreinamento dos movimentos voluntários e da capacidade de deambulação.
Os exercícios terapêuticos (cinesioterpia) promovem a reeducação do controle motor e permitem ao paciente se movimentar da forma mais eficiente possível. O movimento funcional minimiza o gasto energético, previne o surgimento contraturas e o desenvolvimento de deformidades, e reduz a dor.
O tratamento é dividido em duas partes: fase aguda e fase crônica.
Fase aguda: Fisioterapia tem como objetivo melhorar a consciência em relação ao lado hemiplégico e da função motora (controle e aprendizagem motora). Devendo incluir estratégias de aprendizado motora, como feedback intrínseco (fazer o paciente ver seu próprio movimento), feedback extrínseco (auxílio de comandos verbais e manuais). Cinesioterapia iniciando com padrão sinérgico, evoluindo para padrão não sinérgico e FNP (facilitação neuro-proprioceptiva), primeiro evitando padrões sinérgicos.

Fase crônica: Segundo Kisner; Colby (1998), o tratamento fisioterapêutico na fase crônica do AVE, engloba a fisioterapia motora e respiratória, profilaxia de escaras de decúbito, profilaxia de processos tromboembólicos, principalmente trombose venosa profunda devem ser iniciados precocemente. Considerando-se que no campo do tratamento específico, recentes avanços podem definir as opções, baseado principalmente no tipo do AVE, tempo de evolução, idade e condições clínicas do paciente.
A fisioterapia deve objetivar produzir uma redução acentuada na ocorrência de complicações secundárias, principalmente sobre a função respiratória, problemas circulatórios e rigidez articular, bem como encurtamento muscular numa fase inicial, possibilitando a uma proporção muito maior de pacientes tornarem-se completamente ou quase independentes na vida diária, ainda no sentido das complicações secundárias (RIBEIRO, 2004).

Pontos-Chave para o tratamento fisioterapêutico

            Comprimento muscular: Retornando à natureza da espasticidade, é importante enfatizar que ela não é somente um fenômeno velocidade-dependente, mas também comprimento-dependente. Por esta razão é importante considerar o comprimento muscular na abordagem escolhida. Existem muitas técnicas de alongamento muscular, estas incluem o uso de órteses, engessamento seriado, técnicas específicas de FNP e o estiramento mantido do músculo.
            Fortalecimento muscular: Junto com o alongamento do músculo, é preciso considerar a força muscular. O objetivo desta técnica é a restauração do movimento, por meio da interação sinérgica agonista-antagonista, permitindo assim ao paciente recrutar mais eficientemente o músculo motor primário ao mesmo tempo que a inibição recíproca é estimulada.
            Aprendizado motor: Há evidências de que as técnicas baseadas no aprendizado motor por meio da repetição de uma tarefa são capazes de melhorar a função de pacientes. Aparentemente, ao se permitir que o paciente “ensaie” uma determinada tarefa repetidas vezes, há uma ativação do córtex motor, com concomitante redução do tônus, provavelmente devido à neuroplasticidade.

            Modalidades Elétricas: Existe um grande número de modalidades de eletroterapia empregadas em pacientes espáticos. A mais popular é a Eletroestimulação Funcional (também conhecida como FES – Functional Electrical Stimulation). È empregada no controle da espasticidade devido a mecanismos imediatos e tardios. Os efeitos imediatos são: inibição recíproca e relaxamento do músculo espástico e estimulação sensorial de vias aferentes. Os efeitos tardios agem na neuroplasticidade.

            Termoterapia: A utilização do frio (crioterapia) na redução temporária da espasticidade, tem seu efeito por reduzir sensibilidade do reflexo de estiramento do fuso neuromuscular e por inibir os motoneurônios pelas vias polissinápticas.
            O uso do calor é reconhecido como agente facilitador e de preparo para a cinesioterapia e está indicado no tratamento do paciente espástico. O relaxamento muscular ocorre quando se atinge progressivamente temperaturas entre 38,5 e 40 °C. Tanto o frio quanto o calor têm contra-indicações relativas nos pacientes que apresentem arterites, distúrbios vasomotores e alterações de sensibilidade.
Curiosidades
 - O andar do indivíduo com hemiparesia
O padrão do andar em pacientes com hemiparesia caracteriza-se por ser estereotipado e por apresentar múltiplas alterações entre e intra-indivíduos, possivelmente na procura de encontrar novas alternativas para realizar a marcha apesar das deficiências. Tais alterações dependem do nível, da intensidade e da localização da lesão, bem como do tempo de evolução e das condições da pessoa e do contexto (SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 2003).
Conforme Olney e Richards (1996), o desempenho da marcha está diretamente relacionado com a execução de quatro tarefas: manutenção do equilíbrio do tronco, manutenção de suporte dos segmentos do membro durante a fase de apoio, capacidade de retirar o pé do chão durante a fase de oscilação e suprimento de energia suficiente para o sistema corporal a cada passada para que ele avance a frente, e preferencialmente, com meios de conservação de energia . Os autores citam que a realização de tais tarefas que parecem fáceis podem representar desafios substanciais a um sistema de movimento lesionado.
            De acordo com Perry (2005) os padrões característicos de disfunção incluem queda do pé, equinovaro, genu recurvatum e marcha com joelho rígido. De forma geral, o indivíduo com hemiparesia apresenta um controle seletivo prejudicado, e por isso não realiza adequadamente a tomada de peso durante a fase de suporte com a perna parética, além de ter dificuldade no controle da combinação de movimentos mais complexos, como extensão de quadril, flexão de joelho e deslocamento anterior da tíbia. Os padrões avançados de extensão de quadril e máxima flexão de joelho, no início do balanço, e de flexão de quadril com extensão de joelho e dorsiflexão no final do balanço e início do suporte também estão alterados. Portanto, o hemiplégico não realiza dorsiflexão durante o toque de calcanhar, nem os movimentos controlados de tornozelo até o apoio médio. No início da fase de suporte, toca o chão com todo o pé, com o antepé ou com a borda lateral do pé, restringindo assim que o pé se adapte aos diferentes terrenos (PERRY, 2005; SEGURA, 2005).
            Winter (1985) desenvolveu “um quadro diagnóstico” onde lista anormalidades observadas na marcha. Eles identificaram quatro causas para a diminuição no comprimento do passo e velocidade nos indivíduos com hemiparesia: “push off” fraco antes do balanço, fraqueza de flexores de quadril durante a retirada dos dedos e início do balanço, desaceleração excessiva da perna ao final do balanço e atividade extensora de quadril contralateral além do normal durante o apoio contralateral ao membro parético.
Além dos parâmetros temporais da marcha, alguns estudos relatam as alterações cinemáticas do andar do indivíduo com hemiparesia. A descrição das variações nos padrões cinemáticos articulares foram resumidas por Burdett et al (1988), que avaliou 19 indivíduos com e sem órtese. A velocidade confortável foi baixa, 0,27±0,17m/s e as principais diferenças cinemáticas encontradas, comparado com sujeitos saudáveis foram: diminuição da flexão do quadril no contato inicial, aumento da flexão do quadril na retirada dos dedos e diminuição da flexão do quadril durante o balanço médio; maior flexão do joelho no contato inicial e menos flexão do joelho na retirada dos dedos e balanço médio e mais flexão plantar no início do contato e balanço médio e menos flexão plantar na retirada dos dedos. Outros estudos relatam algumas ou todas as seguintes diferenças: diminuição da flexão do joelho e aumento da flexão plantar no contato inicial e durante a fase de balanço, com a magnitude dos déficits geralmente relacionadas a velocidade de marcha e ausência de flexão do joelho no apoio (LEHMANNN et al. 1987; KNUTSSON, 1981). 

Bibliografia

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